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O Barbeiro de Cedilha

A barba na óptica do utilizador

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Mark Bryan

na óptica do utilizador, 26.07.21

Mark Bryan, berlinense, de 62 anos, engenheiro de robótica, heterossexual, cisgénero (identidade de género que corresponde ao género que lhe foi atribuído no nascimento), começou há cinco anos a usar para trabalhar stilettos e saias.

Sente-se mais cómodo usando todas as peças, sejam elas quais forem, que lhe agradem porque segundo ele “a roupa não deve ter género, deve ter uso”.

Esta forma de olhar o que nos envolve o corpo, não é partilhada pela esmagadora maioria das pessoas que, por exemplo, e seguidos pelos deputados da Nação, deixaram de atribuir importância, ou anularam mesmo, as eventuais competências e o trabalho (bom ou mau) do assessor de Joacine Katar Moreira apenas porque este usava saias. Sobressaiu a imagem ridicularizada do assessor de Joacine, arrastando de certa forma a ex-deputada do Livre para o terreno do exibicionismo, da ineficácia, da incompetência e da pantomima.

No entanto, vamos percebendo que há mais mundos. As nossas visões demasiado limitadas prejudicam, de uma forma que não conseguimos imaginar, aqueles que optam por assumir fracturas e viver de acordo com a sua normalidade, as suas específicas normalidades. Atingem em simultâneo aqueles que forçam uma percepção única da vida ignorando que à volta cresce o reconhecimento reforçado da diversidade, porque os tornam estanques e obsoletos.  

A recusa preconceituosa e altamente penalizante do que nos é estranho, ou socialmente estranho, não pode ser tida como reacção a uma ofensa ao instituído quando se sabe que o estabelecido é cada vez mais efémero e carregado de vulnerabilidades que a rápida evolução do conhecimento e das mentalidades tornam visíveis.

O derrube de tabus, sobretudo dos que se relacionam com a sexualidade em todos os seus domínios e vertentes, é não só um dos caminhos para a libertação da espécie humana, como também um aumento exponencial da possibilidade de se ser feliz.    

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