Há mais mundos
É certo que acabamos sempre por ignorar o extraordinário mundo de que somos feitos. Obrigamo-nos a permanecer em limites impostos pelo conforto das áreas que pretendemos dominar. A defesa da diversidade é muitas vezes só uma forma de nos afirmarmos cosmopolitas, urbanos, “modernos”. A variedade brutal com que nos podemos confrontar é de tal maneira gigantesca que nos reduz a uns minúsculos pontos no local de onde somos originários e absolutamente zeros no resto do universo.
Esta dimensão em que nos deparamos com a nossa inabilidade perante o que é múltiplo, acaba por alimentar os nossos medos. Perante o diferente, também podemos ser cobardes.
Negamos ou, o que é trágico, renegamos ou diminuímos a diferença que nos coloca perante a maravilhosa ideia de que há mais mundos e de que há sobretudo mais beleza do que aquela que idolatramos.
Estamos ao mesmo tempo perante alguns indícios da gravidade com que julgamos o que nos é perturbador. A forma como olhamos e lidamos com a velhice (por exemplo) é também susceptível de justificar a violência do ataque do vírus pandémico. O descuido, a falta de protecção e tantas vezes a incúria mais escabrosa, o facilitismo egoísta, a falta de valorização da experiência acumulada, a indiferença criminosa com que os idosos são tratados, foram postos a nu por um vírus que encontrou fácil acesso nesta faixa etária.
A nossa bastante aleatória selecção de imagens é tão somente uma gota nos oceanos, mas reproduz o que nos é estranho, o que nos assusta e o que normalmente recusamos, ignoramos ou desprezamos preconceituosamente.
Perde-se, mais uma vez e também desta forma, a oportunidade de se permanecer enriquecido.









