"The clown moves into the palace!"

"When a clown moves into the Palace, he doesn’t become a King. The Palace becomes a Circus."
Provérbio turco
O presidente eleito Trump tem anunciado rapidamente as pessoas que pretende nomear para seu gabinete, e isso não está a correr bem. Como Brian Tyler Cohen escreveu no Bluesky: “As mesmas pessoas que passaram os últimos anos a criticar contratações não qualificadas, agora estão a forçar nomeações para o gabinete que nem conseguem passar por uma verificação básica de antecedentes.”
Cohen não estava a brincar. Evan Perez, Zachary Cohen, Holmes Lybrand e Kristen Holmes, da CNN, relataram hoje que a equipe de transição de Trump está a ultrapassar as outrora inevitáveis verificações de antecedentes pelo FBI, alegando que são lentas e intrusivas.
Mas esta falta de verificações de antecedentes já mergulhou as escolhas de Trump em controvérsias.

Trump anunciou que nomearia Pete Hegseth, veterano da Guarda Nacional do Exército e coapresentador da edição de fim-de-semana do "Fox & Friends", como secretário de Defesa. Logo após este anúncio, surgiram notícias de que um colega de serviço de Hegseth (segurança da unidade e parte de uma equipe antiterrorismo), alertou os superiores para o facto de uma de tatuagens do recém nomeado ser usada por supremacistas brancos. Tatuagens extremistas são proibidas pelos regulamentos do exército.
Surge também a notícia de que uma mulher acusou Hegseth de agressão sexual após uma conferência republicana em Monterey, Califórnia, em 2017. Segundo Michael Kranish, Josh Dawsey, Jonathan O’Connell, Dan Lamothe e John Hudson, do "Washington Post", a mulher que fez a acusação disse que a suposta vítima havia assinado um acordo de confidencialidade com Hegseth.
A equipe de transição teme mais revelações. "Há muita frustração em torno disto", disse um membro da equipe Trump aos repórteres do "Washington Post", "Hegseth não foi devidamente investigado."
Causando ainda mais dores de cabeça à equipe de transição, está a nomeação de Trump do ex-representante da Flórida, Matt Gaetz, para se tornar procurador-geral dos Estados Unidos. Imediatamente após Trump anunciar sua intenção de nomear Gaetz, o deputado renunciou ao seu assento no Congresso, evitando a divulgação de um relatório do Comité de Ética da Câmara sobre acusações de uso de drogas e de que Gaetz teria levado uma menor de idade para outro estado para fins sexuais. Relatórios indicam que a vítima, uma estudante do ensino médio de 17 anos na época, testemunhou perante o comité.
Depois de passar uma noite com Trump em Mar-a-Lago, o presidente da Câmara, Mike Johnson, declarou que publicar o relatório seria "terrível" e que ele "solicitaria fortemente que o Comité de Ética não divulgasse o relatório, porque não é assim que fazemos as coisas na Câmara".
Kennedy é um adepto do QAnon, antivacinas e um lunático desvairado. Não é cientista, Investigador ou médico. Na verdade, o homem não tem nenhuma experiência em medicamentos, vacinas ou nutrição. Foi sempre um advogado de fachada contratado apenas por suas conexões familiares e sobrenome – que vai destruindo desta vez, a única, com competência. RFK Jr. acredita que, porque o seu escritório de advocacia lidou com alguns casos ambientais, na maioria das vezes sem sucesso, é um especialista em medicina e ciência. Na realidade, ele é apenas o amador que Neil deGrasse Tyson descreve: "Um amador que não compreende o quadro geral ou os detalhes mais complexos de como as coisas funcionam".
Há ainda Tulsi Gabbard. Como escreveu o ex-representante de Illinois Joe Walsh: “Donald Trump acabou de escolher alguém para supervisionar os nossos serviços de inteligência que, por si só, não conseguiria passar por uma verificação de segurança, nem conseguiria sequer uma autorização de segurança. Tulsi Gabbard "não conseguiria um lugar em qualquer uma das nossas equipas, porque está profundamente comprometida com a Rússia." Mesmo assim, Trump a escolhe para comandar tudo.” A nomeação de Trump da ex-representante do Havaí, Tulsi Gabbard, como directora da "Inteligência Nacional" (DNI) não tem em conta os laços de Gabbard com adversários dos EUA, incluindo o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Síria, Bashar al-Assad. Levantam-se sérias questões sobre sua lealdade. Nomeá-la como DNI quase certamente colapsaria a participação contínua dos EUA na aliança "Five Eyes", na qual os EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia partilham informação altamente secreta desde a Segunda Guerra Mundial.

O americano comum acredita que todas as pessoas ricas são inteligentes e que todos com um diploma são automaticamente próximos de Einstein e é portanto fácil para um americano comum acreditar nas teorias da conspiração quando apoiadas por diplomados que contam que as vítimas não entendam como as coisas realmente funcionam.
O efeito Dunning-Kruger não significa literalmente "ser muito burro para perceber que é burro". É, na verdade, um viés cognitivo em que pessoas com competência limitada numa área superestimam as suas habilidades. Neil deGrasse Tyson, no podcast "Star Talk", descreve este fenómeno aproximando-o do amador que acredita estar ao mesmo nível dos pesquisadores científicos altamente qualificados.
Todo o movimento MAGA entende tudo porque leu uma frase na internet de estranhos sem credenciais. Pior ainda, muitos afirmam que "fiz a minha própria pesquisa" sem sequer se preocuparem se estão, sem saber, a ser manipulados por propaganda profissional.
Os americanos comuns acreditam que Trump e Musk são extremamente instruídos e têm conhecimento de tudo sob o sol. Na verdade, ambos possuem apenas um bacharelato em economia, e nem sequer poderiam ensinar no ensino fundamental ou ser bibliotecários, cargos que exigem no mínimo um mestrado. Ambos são amplamente superados pela maioria dos políticos, estadistas, líderes mundiais, economistas, cientistas, médicos e praticamente todos com quem entram em contacto. Ambos possuem apenas duas vantagens: nasceram ricos e promovem-se incessantemente como génios estáveis, quando, na realidade, são uns tolos.
No entanto, a educação pública e privada não falhou. Nos estados republicanos, que agora são a maioria, políticos republicanos e oligarcas donos de escolas com fins lucrativos deliberadamente rebaixaram a qualidade da educação. Não é culpa dos professores, que são na maioria bem qualificados e bem-intencionados, lutando contra a ignorância deliberada promovida pelos republicanos que querem um eleitorado de ovelhas que obedeçam sem questionar. Se somarmos a isto a radicalização das massas nos estados republicanos pelos meios de propaganda, temos tem uma receita para o desastre. As escolas "charter" com fins lucrativos são mal financiadas, têm equipas de baixa remuneração (e não qualificadas) e não são submetidas aos rigorosos critérios de testes padronizados que as escolas públicas enfrentam.

Trump parece ansioso por provar o seu controlo sobre os republicanos no Senado ao forçar nomeações que irão colapsar o estado de direito internamente (Gaetz) e a ordem internacional baseada em regras globais (Hegseth e Gabbard). Quando o senador do Texas John Cornyn disse que gostaria de ver o relatório sobre Gaetz, o leal a Trump, Steve Bannon, declarou: “Ou entra no esquema, irmão, ou vai terminar em terceiro na sua primária.” Um membro da equipa de transição de Trump afirmou que Trump quer dobrar os senadores republicanos à sua vontade “até que eles se quebrem ao meio.”
Apesar de os republicanos deterem a maioria no Senado quando Trump assumir o cargo, as escolhas de Trump são tão profundamente problemáticas e perigosas que ele e sua equipa sabem que podem não ser confirmadas. Por isso, exigiu que os republicanos no Senado prescindissem do seu poder constitucional de aconselhar o presidente sobre nomeações de alto nível e aprovar as suas escolhas: o requisito de “aconselhamento e consentimento” previsto na Constituição pode ser agora letra morta.
Trump exigiu que o Senado entrasse em férias para impor as suas escolhas como nomeações definitivas e sem escrutíneo. Até mesmo o "Wall Street Journal", de direita, se opôs a esse esquema considerando-o “anticonstitucional” e observando que isso “eliminaria um dos principais freios ao poder que os fundadores incorporaram ao sistema de governo americano.”
Agora, para subjugar os senadores, a equipa de Trump está a ameaçar criar seu próprio super PAC para enfraquecer o existente "Senate Leadership Fund", cujos líderes, segundo eles, não são suficientemente leais a Trump. Os líderes republicanos no Senado, diz Trump, “deverm reflectir a liderança actual e o futuro, não o passado.” “Isso não faz sentido”, disse um estratega republicano a Natalie Allison, Ally Mutnick e Adam Wren, do "Politico". “Trump acabou de ter uma grande vitória e agora está a criar um "Never Trumper.”
Mas, apesar da narrativa, o cálculo político para os senadores republicanos não é tão claro quanto a equipa de Trump tenta fazer parecer. Aos 78 anos, Trump não é exactamente o rosto do futuro do partido. Recebeu menos de 50% do voto popular, com muitos eleitores aparentemente alheios às suas políticas, e, embora os republicanos tenham recuperado a maioria no Senado, isso aconteceu com muito pouca ajuda (financeira ou de outro tipo) de Trump. Os republicanos enfrentarão um mapa eleitoral tão desfavorável nas eleições de meio de mandato de 2026 quanto os democratas enfrentaram em 2024, tendo em consideração que os eleitores de Trump tendem a ser leais a Trump e a mais ninguém, geralmente não comparecendo em eleições de meio de mandato.
Também é possível que, além dos cálculos políticos, um número suficiente de senadores republicanos leve a sério seus juramentos de “apoiar e defender a Constituição dos Estados Unidos”, bem como o papel do Senado no sistema constitucional de freios e contrapesos, e julguem as ações de Trump com isso em mente.

Há que resisitir compreendendo que a iniciativa intelectual, espiritual e artística é tão perigosa para o totalitarismo quanto a iniciativa criminosa das gangues, e ambas são mais perigosas do que a mera oposição política. A perseguição sistemática de todas as formas superiores de atividade intelectual pelos novos líderes de massa decorre de algo além de seu ressentimento natural contra tudo o que não conseguem entender. A dominação total não permite iniciativa livre em nenhum campo da vida, nem qualquer atividade que não seja completamente previsível. O totalitarismo no poder invariavelmente substitui todos os talentos de primeira linha, independentemente de suas simpatias, por charlatões e tolos cuja falta de inteligência e criatividade ainda é a melhor garantia de sua lealdade.
