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A escolha de Tony Blair para mediador de paz em Gaza é a prova de que o comité de nomeações do Quarteto para o Médio Oriente tem um apurado e bastante negro sentido de humor. É uma decisão tão lógica como nomear um pirómano para chefe dos bombeiros ou um lobo para gerir a segurança de um rebanho de ovelhas.
Blair, veterano dos labirintos diplomáticos, surge para liderar a “Autoridade Internacional de Transição de Gaza”, estrutura desenhada à semelhança dos grandes clássicos: Timor-Leste, Kosovo e, com sorte, um conselho de condomínio em Massamá.
Do lado israelita, um antigo chefe do Mossad afirmou adorar a ideia, porque “quem já fez tanta confusão sabe reconhecer confusões novas”. Do lado palestiniano, alguns sugerem que o nome Blair ainda provoca arrepios. A memória do Iraque ainda está fresca e não há tempo de fazer terapia colectiva.
Quem melhor para apagar um incêndio do que alguém com uma vasta e comprovada experiência em manusear gasolina perto de chamas abertas? Afinal, o seu currículo inclui a "pacificação" do Iraque, um sucesso tão retumbante que, ainda hoje, os ecos da tranquilidade que por lá instaurou ressoam por toda a região. A sua capacidade para encontrar armas de destruição maciça onde elas não existem é, sem dúvida, uma competência transferível para encontrar soluções de paz onde parecem impossíveis.
Fontes anónimas e totalmente fictícias sugerem que a sua primeira proposta será a apresentação de um PowerPoint com um "dossier irrefutável" sobre a necessidade de uma "intervenção pacificadora preventiva". Espera-se que, com a sua lendária capacidade de persuasão, consiga convencer ambas as partes de que a única solução é renderem-se a uma lógica que mais ninguém entende. A comunidade internacional aguarda, com um misto de espanto e pipocas, os resultados desta nomeação. Se a paz não for alcançada, pelo menos teremos garantido entretenimento geopolítico de alta qualidade.
Gaza, tradicionalmente conhecida como palco de tudo menos consensos, prepara-se para receber Blair exactamente da mesma forma que uma pastelaria recebe o nutricionista da ASAE: “Venha, mas não mexa nas receitas!” O plano de paz de Trump, com Blair a liderar e Kushner nos bastidores, estima resolver o conflito em cinco anos, ou “num prazo compatível com as marés e os astros infernais da política internacional”.
Diz-se nos corredores diplomáticos que, depois deste espectáculo, até a velha pomba de origami da ONU vai pedir licença para emigrar. Mas pelo menos, ao ser tudo transmitido em directo, será garantida uma boa série de memes para animar a próxima década.
No entanto, uma coisa é certa: se a paz em Gaza depender do talento de Blair para “convencer” os dois lados a confiar no mediador, talvez seja melhor começar já a imprimir cartazes a dizer “olha! Foi o que se arranjou!”.