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O Barbeiro de Cedilha

A barba na óptica do utilizador

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O insustentável peso da mentira

na óptica do utilizador, 16.10.25

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Hannah Arendt, (1906–1975), historiadora e filósofa de origem alemã, dedicou a sua existência ao escrutínio de como a liberdade se desfaz não só pela brutalidade da violência, mas pelo declínio insidioso da própria essência da verdade.

Em "As Origens do Totalitarismo", indagou sobre a erosão sistemática da verdade, a ponto dos indivíduos perderem a autonomia do pensamento independente. Observou que o totalitarismo não se sustenta por meio de persuasão ou convicção, mas pela ruptura deliberada entre as palavras e a realidade, convertendo os seres humanos em entidades para as quais a distinção entre verdade e falsidade se torna irrelevante.

Destacou que o propósito da educação totalitária jamais foi fomentar crenças, mas aniquilar a própria faculdade de crer. Quando os indivíduos deixam de discernir em que confiar, e os factos se confundem indistintamente com a ficção, o fundamento do juízo moral desaba irremediavelmente.

Arendt declarou:

"Essa mentira ininterrupta não se destina a compelir as pessoas a crerem na mentira, mas a assegurar que ninguém mais creia em coisa alguma. Um povo incapaz de distinguir a verdade das mentiras não pode discernir o certo do errado. E tal povo, desprovido da faculdade de pensar e julgar, submete-se, involuntária e inadvertidamente, ao jugo das falsidades. Com tal povo, é possível impor o que se queira."

A sua perspicácia persiste como uma advertência perturbadoramente atual. A corrosão da verdade não é suplantada por outra doutrina, é substituída pela confusão e essa confusão, se não for contida, configura o terreno fértil para o domínio absoluto.

E se seguirmos o rebanho cego e mudo, não damos conta de que a única paisagem que temos é um desfile de rabos de fato.

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A fronteira do pano sagrado

na óptica do utilizador, 08.10.25

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Há um fenómeno curioso nas nossas sociedades civilizadas, aquelas que se gabam de respeitar a diferença desde que a diferença vista jeans e fale inglês. Chama-se “a fronteira do pano sagrado”. Basicamente, há tecidos que nos iluminam espiritualmente e outros que, se calhados na cabeça errada, ameaçam a civilização ocidental.

No Ocidente, uma rapariga coberta da cabeça aos pés numa procissão, é tradição. Se for a caminho do Ramadão, já é fanatismo. Dizem que a diferença está na intenção, mas na verdade está no código postal.

O mesmo metro de algodão que numa cabeça é castidade, noutra é conspiração. Parece que com o pano não é tanto o corte, é o contexto teológico.Num caso é vocação, no outro é lavagem cerebral. Ou então uma questão de moda com implicações geopolíticas. O hijab preocupa porque, ao contrário do véu da freira, não é feito em Fátima nem distribuído antes da primeira comunhão, logo, pode esconder segredos perigosos. Como cabelos.

No fundo, o importante é garantir que o lenço tenha mais a ver com o Vaticano do que com a Mesquita. O resto? detalhes de costura.

Há quem diga que as freiras “escolhem” cobrir-se, ao contrário das muçulmanas, que são “forçadas”. É um argumento interessante, sobretudo quando pensado à luz das opções de carreira disponíveis a quem quer mesmo vestir-se assim. Basicamente, ou entras para o convento ou para a polémica. E convenhamos, o convento tem melhor catering espiritual.

E então debate-se: o véu islâmico oprime? Talvez. Mas temos de admitir que a linha entre o “sinal de submissão” e o “sinal de vocação” depende apenas do sotaque da pessoa que o usa. Se dizes “In nomine Patris”, és santa. Se dizes “Bismillah”, és suspeita.

A sociedade europeia, tolerante e plural, vai continuar a aplaudir os véus freiráticos e a torcer o nariz aos véus islâmicos, até ao dia em que Paris parolo lançar a “Coleção Primavera/Véu Universal”, feita de linho reciclado e hashtags inclusivas. Aí, finalmente, todos poderão cobrir o cabelo sem culpa, desde que o façam com bom gosto e cartão visa.

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O coelhinho no circo

na óptica do utilizador, 07.10.25

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A Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que a "New Legislative Framework" (NFL) "não conseguirá dormir à noite" com a decisão de escolher o astro porto-riquenho Bad Bunny como o artista do intervalo de 2026. 

Se ouvimos a música de Bad Bunny? Não.

Só desejamos que Bad Bunny arrase o show do “Super Bowl” a cantar em espanhol, como se espera? SIM

Seria extraordinário um americano (nascido em Porto Rico, logo cidadão americano) deixar os Maga em pantanas a ouvir cantar numa língua “imigrante” logo ali no meio do Super Bowl? SIM.

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É interessante recordar que B.Bunny apoiou oficialmente Kamala Harris logo após, num comício de Trump, o comediante racista Tony Hinchcliffe, um dos muitos palestrantes, ter declarado "Há literalmente uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano neste momento. Acho que se chama Porto Rico”.

Acrescente-se que, dos eventuais artistas participantes, apenas Bad Bunny é um cidadão americano. Rihanna - Barbados; Shakira - Colômbia; Coldplay, The Who, Rolling Stones, Paul McCartney– Reino Unido; U2 - Irlanda.

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