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O Barbeiro de Cedilha

A barba na óptica do utilizador

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A fronteira do pano sagrado

na óptica do utilizador, 08.10.25

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Há um fenómeno curioso nas nossas sociedades civilizadas, aquelas que se gabam de respeitar a diferença desde que a diferença vista jeans e fale inglês. Chama-se “a fronteira do pano sagrado”. Basicamente, há tecidos que nos iluminam espiritualmente e outros que, se calhados na cabeça errada, ameaçam a civilização ocidental.

No Ocidente, uma rapariga coberta da cabeça aos pés numa procissão, é tradição. Se for a caminho do Ramadão, já é fanatismo. Dizem que a diferença está na intenção, mas na verdade está no código postal.

O mesmo metro de algodão que numa cabeça é castidade, noutra é conspiração. Parece que com o pano não é tanto o corte, é o contexto teológico.Num caso é vocação, no outro é lavagem cerebral. Ou então uma questão de moda com implicações geopolíticas. O hijab preocupa porque, ao contrário do véu da freira, não é feito em Fátima nem distribuído antes da primeira comunhão, logo, pode esconder segredos perigosos. Como cabelos.

No fundo, o importante é garantir que o lenço tenha mais a ver com o Vaticano do que com a Mesquita. O resto? detalhes de costura.

Há quem diga que as freiras “escolhem” cobrir-se, ao contrário das muçulmanas, que são “forçadas”. É um argumento interessante, sobretudo quando pensado à luz das opções de carreira disponíveis a quem quer mesmo vestir-se assim. Basicamente, ou entras para o convento ou para a polémica. E convenhamos, o convento tem melhor catering espiritual.

E então debate-se: o véu islâmico oprime? Talvez. Mas temos de admitir que a linha entre o “sinal de submissão” e o “sinal de vocação” depende apenas do sotaque da pessoa que o usa. Se dizes “In nomine Patris”, és santa. Se dizes “Bismillah”, és suspeita.

A sociedade europeia, tolerante e plural, vai continuar a aplaudir os véus freiráticos e a torcer o nariz aos véus islâmicos, até ao dia em que Paris parolo lançar a “Coleção Primavera/Véu Universal”, feita de linho reciclado e hashtags inclusivas. Aí, finalmente, todos poderão cobrir o cabelo sem culpa, desde que o façam com bom gosto e cartão visa.

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