Fechado e sem obras

Os Estados Unidos decidiram entrar em “paralisação governamental”, que é uma forma elegante de dizer "férias forçadas sem bronzeador".
À meia-noite em Washington (aquela hora em que os americanos estão a adormecer e os portuenses já estão na fila da pastelaria) expirou o financiamento federal. O que quer dizer que o maior império do mundo ficou sem dinheiro, como um estudante Erasmus a meio do mês.
Republicanos e democratas não chegaram a acordo sobre o orçamento. Isto deve ser embaraçoso: se nem em dinheiro conseguem concordar, imaginem a escolher a pizza de equipa. No Senado tentaram votar propostas. Chumbou tudo. Nem a dos democratas, nem a do presidente Trump. É sempre bom ver o motor do mundo livre a funcionar com a eficiência de uma impressora pública com papel reciclado.
Consequência: 750 mil funcionários públicos foram mandados para casa, sem salário. Nos EUA chama-se “shutdown”, em Portugal chamar-se-ia “Agosto” ou "época de férias". A diferença é que lá os serviços públicos fecham porque não há dinheiro, cá fecham porque “está solinho”. ou "vou ali e venho já". Serviços essenciais — Forças Armadas, aeroportos, polícias — continuam activos, mas também sem salários garantidos. Isto, sejamos francos, é uma definição muito americana de “essencial”: um tipo pode não ter salário, mas desde que continue armado até aos dentes, está tudo bem.
E claro, a Casa Branca diz que é um “fecho ordenado”. Como se fosse possível organizar o caos: “atenção pessoal, falta de governo, formem fila do mais pobre para o menos desempregado”.