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O Barbeiro de Cedilha

A barba na óptica do utilizador

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2050 - um vislumbre de barbas

na óptica do utilizador, 30.08.24

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É muito provável que em 2050, a barbearia se torne uma experiência altamente personalizada, com barbeiros utilizando tecnologias avançadas para criar looks sob medida para cada cliente individual.

Não será estranho o emprego de algoritmos avançados de IA que têm em conta factores como estrutura facial, textura do cabelo e tom de pele, para fornecer cortes de cabelo e serviços de "grooming" altamente personalizados.

Além disso, a hipóteses de se usar tecnologia de realidade aumentada em que os clientes podem ver uma representação virtual de si mesmos com diferentes cortes de cabelo e estilos, está mais do que prevista. Essa tecnologia permitirá que se experimentem diferentes looks antes do cliente se comprometer com um estilo específico, garantindo que fica satisfeito com o resultado final.

Outra tendência é o aumento de práticas ecológicas e sustentáveis. Com as crescentes preocupações sobre as mudanças climáticas, cada vez mais consumidores procuram produtos e serviços sustentáveis e ambientalmente conscientes. Em resposta, as barbearias podem começar a adoptar práticas sustentáveis, como o uso de produtos capilares naturais e orgânicos, a redução de resíduos e a incorporação de fontes de energia renováveis.

O futuro da barbearia pode incluir o uso de robótica e automação. Máquinas automatizadas de corte de cabelo e braços robóticos que podem aparar o cabelo com precisão e exatidão podem-se tornar mais prevalentes na indústria. Essa tecnologia poderia ajudar os barbeiros a trabalhar de forma mais eficiente, permitindo que atendam mais clientes em menos tempo.

Por fim, é previsível que as barbearias se tornem espaços mais orientados para a comunidade. No passado, as barbearias serviram como importantes centros comunitários, proporcionando um lugar para as pessoas se reunirem, socializarem e partilharem histórias. No futuro, as barbearias podem tornar-se ainda mais integradas no tecido das comunidades, com os barbeiros a desempenhar um papel mais significativo no apoio a negócios locais, na promoção da justiça social e no fortalecimento das conexões entre pessoas de todas as origens.

Ou seja, em 2050 as barbearias provavelmente serão moldadas por tecnologias avançadas, práticas sustentáveis, automação e um foco renovado na construção da comunidade. Embora seja impossível prever a forma exacta destas mudanças, é claro que a indústria está pronta para um crescimento e inovação significativos nas próximas décadas.

Os nossos netos terão o cabelo e a barba tratados, cortados e aparados pela robótica e automação.

... ou não...

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A gorjeta

na óptica do utilizador, 26.05.20

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O mundo é complicado. Existem regras arbitrárias para tudo o que fazemos. Algumas fazem sentido, mas outras não.

Toda a gente entende intuitivamente que não é aconselhável fazer xixi em mictórios adjacentes (a menos que seja necessário), mas será que é errado tirar disfarçadamente a alface colada aos dentes, percebendo-se que ninguém vai reparar, durante uma reunião? Não são os melhores exemplos, mas deu para entender o objectivo destas alusões mais ou menos deselegantes.

Em todas essas regras não escritas, uma das mais difíceis de seguir é a da gorjeta.

Todo o serviço tem o seu próprio conjunto de regulamentos e percorrer esses labirintos pode ser difícil. Como ninguém está pronto para receber informações relativas a todas estas todas movimentações provavelmente fúteis, vamos concentrar a nossa atenção num dos homens mais poderosos da nossa vida: o nosso barbeiro.

Quando entendermos como dar gorjeta ao nosso barbeiro, entenderemos a gorjeta em geral.

barber

10% era o habitualmente aconselhado (The Old School). Mais do que isso seria já um agradecimento especial. Actualmente, uma gorjeta de 10% é considerada um acto forreta. É uma forma de dizer que não gostamos do corte de cabelo, mas não é tão ruim que se torne necessário lutar ou fazer uma cena. Em geral, se a tua grojeta é 10% da conta, não deves planear outro corte de cabelo ou barba com o mesmo barbeiro.

A gorjeta muda com a economia, claro, mas sobretudo com a tua vontade de voltar ao barbeiro que a vai receber. Se o teu corte de cabelo ou tratamento de barba custa mais dez euros e estás satisfeito, a gorjeta deve estar acima de 10% da conta.

E então?

O "então" reporta-se a 15 a 20%. Ocasionalmente, as pessoas tentam ofercer 25%, mas tudo se resume ao local onde estás a cortar o cabelo.

Isto não significa que os salões de luxo devam receber uma gorjeta mais alta do que os barbeiros das ruas laterais, apesar da diferença na gorjeta depender também do local onde a barbearia está localizada. Se estiver no centro de Lisboa ou baixa do Porto, o custo de vida e administração da loja é muito maior e há muito mais concorrência. Tudo isso significa que podes razoavelmente esperar um melhor serviço, sendo que a tua grojeta média deve reflectir estes factos.
Ainda assim, cortar o cabelo numa barbearia mais barata não é desculpa para se ser forreta. Há que sublinhar que o barbeiro pode não ser o dono da barbearia e, normalmente nestes casos, ganha "à peça". A gorjeta faz então todo o sentido, principalmente se não nos sentirmos "a peça".

barber

Os cortes de cabelo são caros. Pior ainda, precisas deles regularmente. A gorjeta apenas aumenta o custo e às vezes o dinheiro é escasso. Felizmente existem soluções. Em muitos casos a amabilidade vale mais do que dinheiro.Talvez tenhas uns ingressos excedentes para um concerto ou algo comparável. Contanto que seja algo que o teu barbeiro realmente aprecie, pode ser uma boa alternativa.

Com tudo isso em mente, existem duas regras a serem seguidas com gorjetas que não são em dinheiro. Primeiro, deves saber se o teu barbeiro realmente deseja o que estás a oferecer. Se for um cartão de pizza grátis da pizzaria onde eles nunca comem, estás apenas a ser um idiota. Em segundo lugar, este tipo de gentileza não deve substituir totalmente o dinheiro. Não pareças um parolo que oferece o que lhe sobra com um ar de quem dispensa o tesouro da rainha.

blind barber

Há contudo um lado sombrio nas barbearias. Há alturas em que não vais conseguir o que desejas. Enfrentar um corte de cabelo ruim (ou uma experiência ruim) faz parte da vida e existe uma maneira certa de lidar com isso. Às vezes basta anular a gorjeta  para expressar o descontentamento (apesar de tudo é bem melhor ter uma discussão civilizada sobre o que está errado).
Se sentes que o teu corte foi apressado, ou que há um problema real com o serviço que torna tudo menos agradável, podes justificar uma ausência de gorjeta, sobretudo se não pretendes voltar.
Por outro lado, os barbeiros são humanos. O teu barbeiro pode estar a ter um dia ruim e fazer um corte de cabelo miserável. Neste caso, a abordagem cavalheiresca tem muito peso. A melhor coisa é expressar o teu descontentamento. Isso não significa que devas pontapear cadeiras, lançar tesouras e gritar com as pessoas. Significa que devesrespeitosamente expressar o teu descontentamento. Geralmente chega-se a um acordo razoável.

Agora, aqui está o truque final nesta situação: depois de conversar com o teu barbeiro, podes deixar uma gorjeta mais magrinha, porque deves mesmo assim agradecer-lhe o tempo e o esforço, mesmo que não gostes do resultado.

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Vamos ser realistas. Às vezes, tu és o problema. Há ocasiões em que és excepcionalmente difícil. Talvez seja porque o teu sobrinho menos favorito colou pastilha elástica no teu cabelo! Talvez tenhas batido com o carro! Seja qual for o caso, se sabes que trabalhar na tua cabeça é mais difícil que o normal, compensa o barbeiro.

Nunca mais te sintas estranho por dar gorjeta ao teu barbeiro. Há óptimos profissionais que, não sendo donos do local, ganham muitíssimo pouco e ficam agradados quando os reconhecemos e compensamos pelo exelente trabalho. É evidente que discutir este assunto é para muita gente uma perda de tempo, pois, ganhem o que ganharem, os barbeiros apenas fazem o seu trabalho. Não damos grojeta a tantos outros profissionais por muito competentes que sejam. É verdade. Não discordamos. No entanto, somos da velha guarda, um bocado conservadores nestas áreas e mesmo ligeiramente paternalistas, se quiserem. Acreditamos ainda que não insultamos ou ofendemos ninguém quando encaramos a gorjeta apenas como uma forma útil de se dizer obrigado.  

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Em tempo de pandemia

na óptica do utilizador, 27.04.20

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Seguindo as recomendações da Direção-Geral da Saúde, todos os estabelecimentos deverão usar materiais descartáveis de utilização única e ter sempre à mão álcool 70% ou toalhetes humedecidos em desinfectante.

É mais do que esperada a obrigatoriedade do uso de máscara cirúrgica, óculos ou viseiras de protecção, além de roupa de manga comprida e calçado a utilizar apenas dentro das instalações, mudado diariamente, ou batas descartáveis.

Os clientes devem levar o mínimo possível para o estabelecimento, entrando com máscara descartável. A solução asséptica à base de álcool que deve ser colocada à entrada/saída servirá mesmo para incentivar o seu uso.

Tendo em conta que não há tempo de espera, não há revistas, tablets ou testers de produtos para evitar o manuseamento inútil.

As conversas também serão menos, pois terá de ser deixado um lugar vazio entre cada cliente que apenas será atendido após reserva prévia (um número calculado em função dos metros quadrados de área útil da loja, o número de cadeiras, as mesas de manicura e os postos de trabalho fora de gabinetes isolados).

A loja também terá de respeitar certas regras de limpeza, higienização e desinfecção, cumpridas com maior frequência para todas as superfícies, principalmente, onde exista maior toque humano, como, por exemplo, braços das cadeiras, interruptores, maçanetas da porta e terminal de multibanco.

Todo o material que não é de utilização única deverá ser lavado após cada utilização, usando um detergente da louça, seguido de desinfecção com um virucida ou álcool 70% e esterilização (temperatura acima dos 60º).

No mínimo, deverão existir dois caixotes de lixo com tampa accionada a pedal. Num saco deitam-se os resíduos urbanos, no outro os equipamentos de protecção individual descartáveis (máscaras, luvas, batas). As roupas de trabalho dos funcionários, as toalhas e os penteadores não descartáveis, após uma única utilização, deverão ser lavados na máquina com lixívia e a mais de 60 graus.

 

Em nome da segurança, esta "normalidade" é agora o "new black".

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15 ódios barbeiros

na óptica do utilizador, 11.01.19

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Considerando que os barbeiros dedicam parte da vida a tentar que se apresente com alguma dignidade, a barbearia é um óptimo lugar para se estar, desde que ignoremos que os homens estão permanentemente a usar objectos pontiagudos e cortantes. Em consequência, é bom que tenhamos a consciência da necessidade de uma boa autodefesa preventiva.

Fomos pedir a vários barbeiros que confessassem o que os incomoda enquanto estamos sentados nas suas cadeiras hidráulicas. 

Antes de chegarmos às coisas suculentas, há que referir que os nossos barbeiros admitem que não há nenhuma crise de boas maneiras acontecendo nos salões de todo o país. Sublinham que 99% dos seus clientes são realmente bons e é um prazer tratar desta percentagem. 

Vamos então ao que deixa os nossos barbeiros em estado crítico:

- Levar connosco a Yoko Ono

"É realmente desconfortável quando há uma outra pessoa parada sobre o nosso ombro a dizer o que fica melhor ao cliente", dizem quase todos os barbeiros. O ideal é tirar notinhas em casa para depois informar o profissional, sem que ele perceba que são preferências da nossa namoradinha.

Uma nota lateral: se o nosso barbeiro de confiança é uma mulher, mesmo que seja remotamente atraente, no momento em que a nossa namorada a conhece, há uma boa chance de nunca mais lá voltarmos.

- Fixar os olhos do barbeiro

Como há uma navalha a ser pressionada tão perto de coisas importantes, como a jugular, é um pouco mais difícil lutar contra o impulso de manter os olhos abertos, mas fixar os olhos do barbeiro como se o homem estivesse pronto a estripar o Jack, ou como se desejássemos um encontro muito … posterior, num barzinho manhoso, não é aconselhável e pode causar alguma confusão ao profissional que facilmente nos arranca a veia a golpe distraído.

- Não delirar de modo nenhum

Parecer que estamos a ter um orgasmo enquanto o barbeiro nos esfrega lentamente o óleo hidratante na barba, é horripilante. Se ficarmos de olhos abertos ao mesmo tempo? É sinistro.

- Não cortar o próprio cabelo

Como já não temos cinco anos, deve-se dizer que não devemos cortar seu próprio cabelo, mas até mesmo rapar umas coisinhas que achamos que estão a mais pode ser realmente frustrante. Não há nada mais desesperante para um barbeiro do que não conseguir corrigir o que arrancamos “por estar a mais”.

- Dominar as expectativas

É possível mostrar timidamente a fotografia do modelo ou do actor que guia os nossos conceitos estéticos, mas temos de entender que um barbeiro não é um cirurgião plástico. Se queremos o cabelo de Justin Timberlake (é tacanho, mas há gente para tudo) ou doutra estrela qualquer, dependendo do que é fisicamente possível, podemos muito bem tê-lo, mas isso não significa necessariamente que nos tornemos “bonzões”. Podemos ficar com um belo corte de cabelo na cabeça de lontra que sempre foi a nossa.  

- Manter a conversa leve

Convém manter a reserva. É evidente que não é regra conversar com o nosso barbeiro sobre os intrincados detalhes da nossa vida amorosa, pessoal, intima. Se temos um relacionamento muito próximo e duradouro com o profissional, tudo bem. O certo é que 99% das vezes as confidências serão tumulares, mas há que ter em conta que uma barbearia é “um mundo pequeno”. Podemos cortar a barba, não podemos “cortar na casaca”.

- Não usar fones

Convém que não sejamos idiotas no barbeiro. Não é recomendação inútil e sem sentido.  

- Escovar os dentes e usar desodorizante

Desfazermo-nos numa torrente de mau hálito e de cheiro a próximos de alguém que segura uma tesoura não é uma boa ideia e é ainda pior quando dependemos dos portadores das lâminas para fazer com que tenhamos uma boa aparência. Não conta mastigar pastilha elástica.  

- Ficar quieto

Há um objeto pontiagudo perto do nosso rosto e se nos contorcemos apenas distraímos a pessoa que o segura.

- O comprimento do cabelo não determina o preço

O cabelo curto nem sempre é menos trabalhoso que o cabelo comprido. Desejamos apenas o pente zero com poucos euros, não vamos a uma barbearia cara.

- Não tocar em coisas que não são nossas

Em nenhuma circunstância devemos tocar na tesoura do nosso barbeiro, especialmente se imaginamos que precisa de um arranjo. 

- Eles são barbeiros - não leitores da mente

Este é um problema facilmente resolvido. Basta trazer uma ou duas fotografias do que gostamos, tendo uma conversa sobre o que é verdadeiramente possível e, em seguida, basta que nos contentemos com a realidade. A maioria dos barbeiros não opina, a menos que perguntemos. Quando dão a sua opinião, é do nosso interesse ouvir.

- Fingir que estamos no cinema

Não enviar SMS, ou desatar a falar ao telemóvel enquanto alguém nos está a cortar o cabelo. Nada é mais rude do que um cliente a acenar para poder atender uma chamada enquanto está no meio da tesourada. Se é uma emergência, podemos informar que há urgência no atendimento da chamada, de contrário é falta de educação. Não vale comer pipocas.

- Não mudar de ideia no meio do corte

Arquivemos isto no dossier do óbvio. Um corte de cabelo não é como um carro, uma camisa ou mesmo um jantar. Uma vez que o corte está em andamento, é quase impossível modificar o processo.

- É uma barbearia, não um bar

Servir bourbon, café ou cerveja em barbearias é uma tendência recente, mas, ao que parece, se a bebida nos leva a fazer striptease ou à baba e ao ronco do género troglodita, é um descalabro para toda a barbearia. Tudo com moderação.

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