Musk(ardo)

Elon Musk recebeu um prémio salarial chocante de 1 bilião de dólares.
É um escândalo corporativo monumental. Musk conseguiu um dos maiores roubos financeiros da história empresarial, e os accionistas da Tesla, em vez de se revoltarem, aplaudiram-no.
Numa cena saída de um filme distópico de ficção científica, Musk apareceu em palco num Austin rodeado por robôs humanoides dançantes, anunciando que o futuro da Tesla é “um livro totalmente novo.” O primeiro capítulo deste “livro”? Um prémio de 1 bilião de dólares para o homem mais rico do mundo, mesmo quando as vendas da empresa caem 13% e milhares de trabalhadores enfrentam o desemprego. Mais de 75% dos accionistas aprovaram o que pode dar a Musk o controlo quase total da empresa, caso ele consiga vender um milhão de robôs humanoides, absurda meta que só serve para justificar a sua ganância.

Este é o retrato perfeito do capitalismo predatório: um bilionário a enriquecer ainda mais, enquanto os trabalhadores são descartados sem protecção nem transparência. A última vez que Musk tentou um pacote deste género, em 2018, foi repudiado por um tribunal do Delaware que considerou o conselho da Tesla um mero clube de fãs e o processo “contaminado e opaco.”
Mesmo os maiores reguladores financeiros e fundos de pensões internacionais chamaram a este acordo “astronómico” e “indefensável.” Mas nada disso impediu Musk de levar a sua fortuna ainda mais longe, enquanto os trabalhadores continuam presos à estagnação salarial e a exigir sacrifícios desumanos (dormir nas instalações da fábrica é uma das suas imposições).
Isto não é “remuneração por mérito.” É feudalismo corporativo na sua forma mais crua, com Musk a coroar-se o rei deste império milionário em detrimento da maioria. O bilionário não vai parar por aqui. A sua necessdade de controlar o “exército de robôs” que está a construir, para evitar que “caia em mãos erradas., obriga-o a um fanatismo ambicioso e narcisista. A verdade é que os riscos já estão aí, e o poder concentrado numa só pessoa nunca foi tão perigoso.

Enquanto isto, o lucro da Tesla afundou 37% no último trimestre, Musk exige um prémio de 1 bilião de dólares (aprovadíssimo por accionistas interessados mais no espectáculo do que na justiça).
Um bilião de dólares é uma soma quase inimaginável, superior ao PIB de muitas nações e quase equiparada ao valor de mercado da Tesla.
Este valor absurdo não é apenas uma afronta aos accionistas, mas também um aviso: Musk está a redefinir os limites da ganância executiva, numa altura em que os CEO americanos já são pagos muito para além daquilo que contribuem para a economia.
O conselho da Tesla, constituído pelos seus aliados, defende que este prémio é necessário para manter Musk “focado e motivado.” Mas o homem já é o maior accionista e o mais rico do planeta. A questão é por que razão um bilião é necessário para que fique concentrado na empresa que já domina?
E os supostos “outros interesses” que Musk quer perseguir? Apoio a regimes autoritários e partidos de extrema-direita na Europa, transformação da rede X numa plataforma tóxica de ódio; distrações nas suas outras empresas, como a Boring Company, que está a escavar um túnel sob Nashville para um “transporte de pessoas” movido por Tesla e que desrespeita regulamentações ambientais, ameaçando causar estragos em cidades como Nashville. Estes "outros interesses" talvez incluam dedicar mais tempo a apoiar movimentos autoritários pelo mundo, como o partido de extrema-direita AfD na Alemanha, os líderes de direita em Itália, nos Países Baixos, no Reino Unido e na Argentina que ele tem promovido, ou à transformação da X num esgoto de intolerância de extrema-direita. Dedicar mais atenção à sua SpaceX está atrasada no contracto lunar, causando até reacções desesperadas e insultos nas redes sociais.
A ingenuidade de pensar que Musk, depois de abandonar o projeto DOGE associado a Trump, seria menos perigoso para a humanidade já foi desfeita.
Apesar da inovação, a sua ganância apoia regimes autoritários com uma falta de escrúpulos que impõem pesados fardos.
Musk pode até ser visto como um “mal necessário”, mas este pacote astronómico confirma que o poder descontrolado é um grave risco para a justiça social e económica.
O impacto social e económico do pacote salarial de 1 bilião de dólares concedido a Elon Musk é profundo e controverso, com importantes repercussões para diferentes grupos.

Aprofunda ainda mais a desigualdade social, ao colocar nas mãos de um único indivíduo uma fortuna equivalente ao PIB de muitos países. Enquanto isso, os trabalhadores da Tesla enfrentam cortes de empregos, com cerca de 10% da força de trabalho global afectada por despedimentos recentes, salários estagnados e exigências de produtividade extrema. A cultura organizacional promovida por Musk, que incita ao sacrifício pessoal extremo como dormir na fábrica, agrava o cenário de precariedade laboral para os empregados.
Além disso, a aprovação deste pacote apesar da fraca performance da empresa e da redução substancial dos lucros (queda de 37% no terceiro trimestre) evidencia uma desconexão entre a valorização dos executivos e as condições reais dos trabalhadores e accionistas minoritários. Há críticas de que o acordo simboliza um "feudalismo corporativo", aumentando a concentração de poder e riqueza nas mãos da elite executiva, ao passo que a maioria da força laboral fica vulnerável.
Economicamente, este pacote condiciona a remuneração do CEO a metas altamente ambiciosas de valorização da Tesla, que exigem um crescimento da capitalização de mercado de cerca de $1.5 trilião para $8.5 triliões até 2035, além da venda maciça de robôs humanoides e veículos autonómos. Enquanto estas metas podem estimular inovação e crescimento, também elevam os riscos financeiros da empresa, colocando em perigo a sustentabilidade de tal expansão, num sector já contestado por maior concorrência e desafios logísticos.
Além disso, desrespeita o equilíbrio económico ao estabelecer um padrão novo e exagerado para compensações executivas, numa época em que a discrepância salarial entre a alta direcção e os trabalhadores alcança níveis extremamente desequilibrados (CEOs ganham até 600 vezes mais que trabalhadores comuns). Tal concentração de riqueza e poder não pode estimular incentivos produtivos reais e cria fricções internas e externas que afectam a estabilidade económica da empresa e do mercado.
Finalmente, a permissividade dos accionistas e do conselho, alinhados com Musk, para tais pacotes também levanta questões sobre práticas de governança corporativa e transparência, já que decisões unilaterais podem comprometer o interesse colectivo e o valor a longo prazo dos investidores menores.

Em resumo, o pacote de 1 bilião de dólares atribuído a Musk simboliza um crescendo da desigualdade social e económica dentro da Tesla e no contexto mais amplo do capitalismo corporativo, com resultados que potencialmente prejudicam os trabalhadores, accionistas e a sustentabilidade económica real da corporação.








