O Barbeiro de Cedilha

Dois já manipulam os palhaços. O terceiro em breve (e em surdina) viciará o resto do circo.

Quando poderes desmesurados e incontroláveis (mesmo rivais) se aliam na mira de um alvo bem definido, é mais do que evidente que o objectivo é apenas o de subjugar os artistas.    

“Childless cat ladies…”

Postmenopausal females…”

- Is the Republican ticket aware that women can vote?!

Hillary Clinton - 15/08/2024

Mesmo que Kamala Harris fosse a representante política de um programa vegetal, seria sempre muitíssimo melhor do que encabeçar o Projecto 2025 que Trump realmente quer implementar.   

É então mais fácil roer a corda das imbecilidades “trumpistas” do que posicionarmo-nos de forma séria perante um homem laranja que de repente se tornou branco.

Passemos em consequência à acção:

Trump deixa tombar no meio de um comício na Pensilvânia o facto de não compreender como é possível considerarem Kamala Harris uma mulher bonita, sendo ele próprio muito mais bonito do que ela  “I say that I’m much better looking than her. Much better. Much better"

O ex-presidente e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu reuniram, no dia 26, no resort Mar-a-Lago do republicano, na Flórida. Trump pediu que Netanyahu não aceite um cessar-fogo porque tal favoreceria a campanha de Kamala. Para além do encontro poder ter alegadamente violado o chamado Logan Act é aproveitado por Trump para insultar Kamala. "Ela é uma pessoa da esquerda radical. Destruiu São Francisco. É uma destruidora, não sabe construir"

O casal Walz tem dois filhos.

Hope, de 23 anos, nasceu depois do casal ter lutado durante sete anos contra a infertilidade.

Tim Walz fala, sem constrangimentos, dessa questão, recordando a razão de ter dado o nome Esperança à sua filha.

Os MAGA, num esgar de idiotice e de cretinismo, decidem publicitar o potente esperma de Vance, simulando que o transportam dentro de uma pequena embalagem.

É impressionante ver como esta abantesma é capaz de sobreviver à sua própria imolação.

Trump tem tentado distanciar-se do Projeto 2025, alegando que foi criado pela "extrema direita" e que não sabe nada sobre isso.

No entanto, Kevin Roberts, o autoproclamado "chefe" do Projeto 2025, irá publicar um livro cujo prefácio é assinado pelo candidato a vice-presidente de Trump, J.D. Vance, que elogia entusiasticamente as suas ideias.

"Nunca antes uma figura com a profundidade e estatura de Roberts dentro da direita americana tentou articular um futuro genuinamente novo para o conservadorismo", escreve Vance, de acordo com a página do livro na Amazon. "Estamos todos a perceber que é hora de unir fileiras e carregar os armas. Nas batalhas que estão para vir, estas ideias são uma arma essencial."

Que ideias?

Assim como Vance, Roberts é obcecado com a ideia de que a esquerda controla as principais instituições americanas (lista as faculdades da Ivy League, o FBI, o New York Times, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, o Departamento de Educação e até mesmo os Escuteiros da América). O livro argumenta que “os conservadores precisam destruir” estas instituições se “quisermos preservar o modo de vida americano.”

Obviamente, isso constitui um problema para as tentativas de Trump de se distanciar do viralmente impopular Projeto 2025 e sua extensa agenda quer o guiará se vencer, centralizando o poder executivo na presidência.

É mais um indício de que a escolha de Vance pode ser politicamente problemática para Trump. Vance tem uma fascinação por pensadores provocativos e da extrema direita e um histórico de elogios ao idiário com marcada tendência fascizante. Vance não é um companheiro de corrida com objectivo de conquistar eleitores indecisos e preocupados com o facto deTrump poder ser muito extremo. Muito pelo contrário.

O livro foi escrito e anunciado antes de Vance ser escolhido como vice-presidente de Trump. Mas há algumas indicações de que as pessoas envolvidas tiveram algumas segundas ideias tardias sobre isso. Foi originalmente anunciado como "Luz da Manhã: Destruindo Washington para Salvar a América," com uma imagem de capa mostrando um fósforo sobre a palavra "Washington." Mais recentemente, no entanto, o subtítulo foi alterado para "Retomando Washington para Salvar a América," e o fósforo desapareceu da capa.

Vance concorda com as ideias mais extremas do Projeto 2025, de 922 páginas, que contém uma infinidade de propostas, nem todas necessariamente apoiadas por J.D. Vance. o problema é que Vance já apoiou publicamente ideias semelhantes às apresentadas nas duas das áreas mais controversas deste documento.

A primeira é o aborto. O Projeto 2025 estabelece uma agenda abrangente pela qual o próximo presidente poderia usar o poder federal para impedir abortos, incluindo o uso de uma antiga lei chamada Lei Comstock que permite processar pessoas que enviam pílulas abortivas pelo correio, e trabalhar para impedir que mulheres de estados que proíbem o aborto viajem para outros estados para os realizar.

Vance já se manifestou apoio a estas diretrizes. No ano passado, assinou uma carta exigindo que o Departamento de Justiça processasse médicos e farmacêuticos "que violam as leis federais de aborto por correspondência." Em 2022, disse que era "simpático" à ideia de que o governo federal deveria interromper os esforços para ajudar mulheres que viajam para fora de seus estados para fazer abortos. No mesmo ano, disse também que: "Certamente gostaria que o aborto fosse ilegal a nível nacional."

Noutros momentos, Vance adoptou um tom diferente. “Precisamos aceitar que as pessoas não querem proibições gerais ao aborto”, disse em Dezembro passado. Em Julho declarou apoio à decisão do Supremo que permitiu que a pílula abortiva mifepristone permanecesse disponível. Aqui, Vance está a tentar se alinhar-se com Trump, que (temendo uma reação política) afirma que apenas quer que o aborto seja uma questão estadual, apesar de sua longa aliança com a direita religiosa. Mas o histórico de Vance sugere que sua verdadeira agenda pode ser outra.

A segunda área controversa em que Vance está em sintonia com o Projeto 2025 é a centralização do poder presidencial no ramo executivo. O projeto apresenta várias propostas para dominar o que os conservadores sabem ser como uma burocracia de "estado profundo" fora de controlo (principalmente demitindo muito mais funcionários públicos de carreira e instalando muito mais nomeados políticos em todo o governo).

Vance apoiou uma versão maximalista desta agenda. Em 2021, disse que no segundo mandato de Trump, Trump deveria "demitir todos os burocratas de nível médio, todos os funcionários públicos no estado administrativo, substituí-los pelo nosso pessoal." Os tribunais tentariam impedir esta manobra, continuou Vance, e Trump deveria então "apresentar-se diante do país como Andrew Jackson o fez, e dizer: ‘O chefe de justiça tomou a decisão. Agora, que a faça cumprir.”

Enquanto Trump está a fazer o possível para supostamente se afastar do altamente impopular Projeto 2025, o seu companheiro de corrida J.D. Vance está a tornar esta vontade difícil ou impossível.

O problema continua a ser o já sublinhado: Vance é o teórico do trumpismo. Sem Vance, Trump era apenas Trump, uma fantochada.